07 mar Tudo o que você sempre quis saber sobre investimento em Arte
CultCultura.com (07-03-2018)
Um dos vídeos do canal da Cult Cultura no Youtube é sobre Clubes de Gravura, em que conversamos com o então curador e a coordenadora do Clube de Gravura do MAM (assista aqui – teve até participação especial s2). Agora, a International Conference Artwork Expertise (ICAE Brasil) desenvolveu um texto exclusivo para a Cult Cultura, ensinando o passo-a-passo para se investir em arte:
Existem os investidores conservadores, que apostam em instrumentos financeiros previsíveis como os prazos fixos ou na compra de dólares; há também aqueles, com um pouco mais de informação, que se interessam por ações ou títulos, e também aqueles mais ousados que veem em uma obra de arte uma aposta a longo prazo, que, com assessoramento correto, podem obter um lucro em dólares de até 12% ao ano.
O mercado de arte brasileiro opera um volume total de R$ 336,3 milhões de reais (2015) apenas nas transações registradas(estatisticamente sete a cada dez transações se realizam entre particulares, fora de qualquer registro), de acordo com o bacharel em peritagem de arte Gustavo Perino, que cita o relatório da European Fine Art Foundation (TEFAF).
A partir de sua empresa Givoa Consulting Brasil, Perino avalia a autenticidade de obras de arte e presta assessoria a possíveis compradores. De acordo com o profissional, investir em arte pode gerar um lucro de 8 a 12% anuais em dólares com um capital inicial que oscila entre R$10.000,00 e R$15.000, oo, com uma comissão de, em média, 15% para o intermediário.
“Cabe destacar que o investimento em arte é um investimento a longo prazo, não é recomendável adquirir uma peça para vendê-la no ano seguinte”, explica o especialista, destacando, ainda, que se trata de um investimento com o qual, além de ganhar dinheiro, se adquire capital cultural.
Outro ponto que ressalta o profissional é a necessidade de um assessoramento para evitar golpes. “O mercado de arte tem uma particularidade: uma alta quantidade de peças que circulam no mercado são falsas ou estão mal atribuídas”, indicou. Após o primeiro congresso peritagem de arte, realizado em Buenos Aires em setembro de 2016 (ICAE), concluiu-se que as peças falsas somam um total de aproximadamente 40%.
Além disso, destacou que a arte consagrada (mercado secundário) – de artistas falecidos ou com trajetória conhecida além do meio artístico – é mais estável e menos rentável comparada à arte contemporânea (mercado primário), esta mais volátil, porém, com a possibilidade de concretizar um negócio mais lucrativo.
A seguir, cinco recomendações de Perino para levar em conta na hora de investir em arte:
1- Autenticidade: a obra deve estar devidamente identificada, ter informação verdadeira de sua procedência e ser coerente com a documentação que a acompanha. A indústria dos certificados apócrifos (falsos) é um flagelo para o mercado de arte e para a conservação do patrimônio cultural. É prudente consultar um perito de arte antes de realizar a compra;
2- O valor justo: é importante consultar-se com um especialista para assegurar o pagamento correto sobre o bem. Se este assessoramento vem de instituições e/ou empresas que não exercem a atividade comercial de comprar e vender, melhor ainda, já que não haverá conflitos de interesse;
3- Assegurar a obra: uma vez adquirida a peça e obtida a documentação que assegure a propriedade da obra é recomendável assegurar a obra com uma apólice de seguro especializada. Desta forma, o investimento estará protegido contra eventuais danos ou roubos. Já existe no Brasil este tipo de apólices de seguro por um bom preço;
4- Mercado primário vs. mercado secundário: a arte, diferente dos commodities, tem valor pelo prazer e gozo de se ter adquirido um bem cultural. A definição do que comprar não depende somente do assessoramento, mas também do gosto estético do investidor.
Se a escolha é comprar arte consagrada do mercado secundário, as opções são múltiplas e para todos os orçamentos. É recomendável comprar artistas que tenham histórico de vendas públicas e que sua produção seja identificada e protegida. Infelizmente, há artistas que têm sido vítimas da falsificação em massa e, por mais que a peça a ser adquirida seja autêntica, a tendência é de que seu lucro seja limitado. Também existem, dentro deste segmento, grandes oportunidades de compra de artistas que tiveram sua passagem marcada na história da arte, mas que hoje não têm recordes de vendas e suas peças são vendidas a preços muito baixos.
Quanto à arte do mercado primário, deve-se considerar que tal artista está atualmente em produção, por isso, a oferta de obras é maior comparada ao exemplo anterior; não obstante, seu valor de mercado estará determinado pelo seu histórico profissional e decisões de produção para o futuro. Estas características o tornam instável, mas potencialmente lucrativo já que, em sua carreira, pode ganhar prêmios, vender a melhores preços ou adquirir certa fama que se traduzirá em uma melhor valoração de suas obras no futuro.
5- Investidor vs. colecionador ou ambos: não necessariamente deve-se ter a intenção de colecionar para adquirir obras de arte e, assim, diversificar a carteira de investimentos. Da mesma forma que nem todos os colecionadores têm como objetivo o retorno financeiro com a compra de obras de arte, qualquer pessoa pode comprar arte como investimento, mas devem saber o que comprar e ter paciência para vender. O assessoramento profissional, a documentação e contrato de compra e venda são peças chave para fazer deste investimento uma atividade segura e de longo prazo.
A próxima edição da International Conference Artwork Expertise (ICAE Brasil), acontecerá na cidade do Rio de Janeiro o dia 29 de setembro de 2018 e tem como objetivo a confraternização e atualização dos profissionais de peritagem de obras de arte do Brasil, resto de América Latina e do mundo.
ICAE será parte de uma importante agenda internacional de arte no Brasil, como a 33ª Bienal de Arte de São Paulo e a 8ª Edição de ArtRio (Rio de Janeiro), entre outros eventos que aconteceram no mês de setembro em todo o Brasil. O congresso é único em seu tipo na América e por isso queremos potencializá-lo, fazendo parte desse calendário.
Sobre o autor: Gustavo Perino é bacharel em peritagem de obras de arte, empresário fundador da Givoa e criador do ICAE. Atualmente também é coordenador e professor da pós-graduação em Peritagem de Arte na Universidade Santa Úrsula.