O youtuber restaurador que está viralizando a arte e que arrisca o patrimonio em cada video

Podem as técnicas efeitistas ser apropriadas para a proteção do Patrimonio? Em peritagem de arte os programas de TV como “Trato Feito” ajudam na divulgação da atividade do perito mas, gera falsas expetativas sobre os resultados e sobre os “tempos” de uma “pericia”, situação nada boa para a profissão, mas estes tem muitos seguidores e se “viralizam” rapidamente.

Por Deborah García Sánchez Marín. (tradução: GIVOA Brasil).

Vamos combinar que o YouTube o conseguiu: se alguma vez duvidamos do que tudo poderia ser viral chegou o momento de aceitar as evidências. Se o homem que vamos falar fora um programa de citas do lado do seu nome Julian Baumgartner, apareceria: restaurador e youtuberO trabalho de Baumgartner  é fascinante; seus vídeos são “efeitistas”, o fato de reviver as cores depois de séculos escondidos detrás das capas de verniz envelhecido é sem dúvida uma tarefa agradável.

Mas.., quem é verdadeiramente Julian Baumgartner?

Baumgartner é um restaurador, ele deixa claro isso em cada oportunidade. Representa a segunda geração de uma família que restaura obras de Arte  Baumagartner Fine Arts Restauration. Seu Pai, Agass fundou a empresa em 1978 e, depois de sua morte o Julian tem continuado seu legado. Segundo a sua biografia, começou trabalhar com o seu pai como estagiário no ano 2000. Apos sua morte (Julian) continuou com o negócio familiar na cidade de Chicago – USA. Mas, porque são tão exitosos seus vídeos?

Como podemos ver no video, o Julian faz o trabalho de maneira tranquila e relaxada entanto explica o que esta fazendo nas telas. A organização da cena televisiva é boa e seu trabalho final é agradável, e gosta muito mesmo a milhares de pessoas. Seu canal é muito frequentado e desde o seu primeiro vídeo até hoje (3 anos depois) acumula 671,000 seguidores.

Seus vídeos tem milhões de visualizações e Baumgartner segue um processo simples: mostra o estado “original” da obra para logo depois poder comparar com o trabalho finalizado. Explica os passos de uma maneira didática. Os primeiros planos apresentam suas mãos que, “como se fosse um mágico” trabalha e devolve aos quadros seu esplendor original. A receita do seu êxito deve-se a: sua voz es hipnótica, misturada com uma boa música clássica.

Os movimentos são repetitivos e como se fosse uma dança, Baumgartner vai nos ensinando suas ferramentas e os produtos que usa. A filmagem alterna detalhes das obras com planos da sua oficina.

Baumgartner pensa que o êxito do seu canal deve-se à experiência “sensorial” onde a obra de arte vive novamente, mais brilhante, limpa e definida. Definitivamente o trabalho de Baumgartner gosta, e muito.

Ele tem muitos detratores. Por quê?

Não tudo está de parabéns e “likes” no Youtube, em cada video, aparecem pessoas que questionam suas práticas. Baumgartner fala que tem clientes particulares, empresas e instituições e que tem trabalhado com muitas obras de muito valor. A oficina tem sua antiguidade e prestígio na sua cidade mas..,

Qual é o problema? Nas intervenções evidenciam-se práticas questionadas e com alto risco para a conservação da obra de arte e o seu futuro como bem cultural. Considerando certos exemplos de terror, é entendível que a comunidade acadêmica esteja em alerta permanente.

O próprio restaurador comenta no seu video, que as pessoas que participam do seu canal não pertencem ao mundo acadêmico. São pessoas que curtem ver as obras “renascer” com a passagem de um cotonete. As pessoas leigas não percebem os grandes riscos de certas intervenções.

Ele é acusado de ser muito invasivo, que usa materiais inconvenientes e um tratamento inadequado da capa pictórica e até inclusive, acusam ele de má praxis. No vídeo Ave Maria, Baumgartner, até insinua a possibilidade de retirar toda a pintura e trocar de suporte.

Como indica Yaiza Lascorz, conservadora e restauradora de bens culturais: “Não precisa ter estudado para observar que ele tem medidas extremamente invasivas. Trocar de suporte, deve ser o último a considerar já que perde parte da obra, deixa seus materiais originais para trás”.

Os profissionais da restauração, são muito rígidos com este assunto, cada obra é um mundo e nas práticas devem considerar-se o que é melhor para cada quadro. Sempre o restaurador deve pensar o que vai acontecer com essa obra no longo prazo.

No seus vídeos, Julian não tem explicado os testes sobre os produtos químicos utilizados nessa peça. Magicamente Baumgartner sempre “dá com o produto certo”, explica Lascorz, “não sabemos o que ele usa e penso que, se ele contasse todos os restauradores de profissão iriamos contra ele”.

O tempo poderá confirmar se Julian Baumgartner está arriscando patrimonio com sua questionável pratica da profissão. O que não se tem dúvida (segundo Lascorz) é: que o assunto de viralizar este método é perigoso para a nossa profissão. Qualquer pessoa acha que pode restaurar quadros e isso é muito perigoso.